Afrodescendência e alteridade e na cultura brasileira
- Ort: Hamburg
- Beginn: 19.10.12
- Ende: 19.10.12
- Disziplinen: Literaturwissenschaft, Medien-/Kulturwissenschaft
- Sprachen: Portugiesisch
19. Oktober 2012
Universität Hamburg
Organisation: Joachim Michael / Markus Klaus Schäffauer
A apologia da miscigenação na primeira metade do século XX teve, sem dúvida, o grande mérito de suplantar o segregacionismo racista que provinha das ideologias das raças. Ela permitiu que se plasmasse um modelo de unidade nacional que não dependesse da pureza racial. Certamente autores como Gilberto Freyre buscaram até desprender a noção da unidade nacional do conceito da raça. Num país de morenos, a categoria da raça estaria perdendo seu sentido na medida em que uma população “etnicamente diversificada” ou “multirracial” passasse a desrespeitar as diferenças raciais. Pelo contrário, a unidade nacional brasileira seria fruto de determinados valores panbrasileiros que nascem justamente de uma consciência meta-racial que já superou o pensamento racista. Desta forma, o modelo do Brasil passa a ser um modelo cultural já que o país constituir-se-ia não da miscigenação em si, mas de uma cultura de tolerância no que diz respeito às diferenças raciais. Vê-se, por conseguinte, que tal modelo continua prescrevendo o primado da unidade nacional – “admirável – como escreve Freyre – num país tão vasto” – em um momento no qual se tem o cuidado de não sacrificar as diferenças pela concepção de uma nação mista e homogênea.
O propósito da "Jornada de afrodescendência e alteridade na cultura brasileira" é discutir a persistência das diferenças étnicas no Brasil. Partindo do princípio de que a dinâmica social que prevalece não é a da harmonização destas diferenças, mas sim a subjugação e dominação que são percebidas como heranças pós-coloniais de uma sociedade que não questionou sua estrutura patriarcal e senhorial. No que concerne à afrodescendência, a questão será até que ponto as diferenças relacionadas à cor da pele ou ao fenótipo não se convertem em distâncias sociais que convidam à exploração, à negação e ao apagamento. Neste caso, o modelo do Brasil passaria a ser o de um país ambivalente que, ao mesmo tempo que insiste em poderosos rituais de reconciliação coletiva e de celebração nacional, tende a combater-se de muitas maneiras e a impossibilitar sua integração. Os movimentos negros há tempo alertam para a fragilidade do teorema da democracia racial. A Literatura Marginal extingue as últimas dúvidas acerca de que Brasil é uma sociedade partida e essa literatura tenta arrancar as periferias do esquecimento. A partir da última década do século XX aumentou a percepção de que as relações sociais no Brasil se revestem de uma violência que se agrava, quando os alvos são afrodescendentes. Multiplicam-se as denúncias dos mecanismos de exclusão e de discriminação e agudiza-se o entendimento de que expressões artísticas, como a literatura, vêm discutindo a persistência desta violência racista e senhorial desde a Abolição quando ela foi forma oficialmente eliminada pela Lei Áurea. Ao mesmo tempo, perfilam-se com mais nitidez vozes afro-brasileiras que reivindicam o reconhecimento de sua alteridade e da existência de outros Brasis.
Um marco neste sentido é a antologia crítica "Literatura e afrodescendência no Brasil" que Eduardo de Assis Duarte organizou em quatro volumes e que foi publicada muito recentemente em 2011. A Jornada toma o lançamento desta antologia crítica como incentivo a rever a questão da afro-brasilidade em suas manifestações artísticas. Estarão em foco a articulação de alteridades afro, o testemunho da violência racista e segregacionista assim como propostas de re-escrever a história brasileira a partir de uma perspectiva marginalizada e reprimida. Em última instância estarão em jogo discursos alternativos do Brasil que decorrem desta polifonia de vozes historicamente silenciadas.
Programm der Jornada
09:00 – 09:30 Joachim Michael / Markus Klaus Schäffauer: Boas vindas e introdução
09:30 – 10:15 Eduardo de Assis Duarte “Literatura e afrodescendência no Brasil”
10:15 – 11:00 Constância Lima Duarte “A violência de gênero nos contos de Conceição Evaristo”
11:00 – 11:30 Kaffeepause
11:30 – 12:15 Suzana de Vasconcelos “Poesia e alteridade negra”
12:15 – 13:00 Markus Klaus Schäffauer “O defeito do defeito da cor”
13:00 – 14:30 Mittagessen
14:30 – 15:15 Leda Marana Bim "A afro-brasilianidade no contexto da ditadura militar"
15:15 – 16:00 Joachim Michael “A literatura afro-brasileira e as margens do tempo histórico”
16:00 – 16:30 Kaffeepause
16:30 – 17:15 Isabel Florencio “Fotografia e afro-brasilianidade”
17:15 – 18:00 Licia Soares de Souza “Negros malandros e quadrilheiros: novos heróis do cinema brasileiro”
18:00 – 18:30 Debate conclusivo
Publiziert von: RZ